Legoland

A história do pneu esta-me atravessada!
Sei que nós portugueses somos desenrascados e sabemos bem o que é improvisar, mas aqui não conhecem mesmo este termo ou então são melhores que nós no negócio! Deve ser isso, pois sinto-me enganado.

Disse para a assistência em viagem que não precisava de reboque, preciso é que me levem a uma oficina de pneus, pois já tinha desmontado a roda.
Assim fizeram. cerca de 1 hora depois chega-me um carro da assistência com um viking lá dentro 🙂
Digo um viking, pois era tal e qual o que imaginava deste povo. Cabelo loiro grisalho, homem robusto e, o toque final, um bigode também loiro enorme, a revirar para cima nas extermidades!
É nestes momentos que me devia lembrar de tirar uma foto… Passou!

Olhou para o pneu e disse – hum, this a big hole. You need a new tyre!
Pronto já estou feito, lá se vai o orçamento.
E continua – aqui na Dinamarca não remendamos pneus, se a polícia nos apanha com remendos que possam causar acidentes, como esse furo grande apanhamos uma grande multa!
Oh homem, só vou ficar aqui mais um par de dias!
Ah! Mas a responsabilidade é minha.
Mas eu assino um papel em como me responsabilizo!
Irredutível!
Boa vontade não lhe faltava. Fez há vontade uns 8 telefonemas para conseguir encontrar alguém que reparasse ou substituísse o pneu, na sua opinião.
Lá demos com um representante da Yamaha, pois a BMW ficava a 80 Kms e eu tinha de pagar mais, mas já vamos às contas…
Entramos, só têm um pneu com estas características e é de estrada. Um Bridgstone, lisinho, lisinho como eu não gosto nada! Custa 1560 coroas.
Reclamo. Ligam para a BMW Motorrad de Oldog. Sim têm pneus – sorriu!
Ah, mas tens de pagar mais umas coroas, são 1600. De acordo vamos lá. Espera, eu recebo há hora, e a tua companhia só me paga uma hora a 750 coroas. Eu levo-te mais 2500 coroas da primeira hora e 1500 pelas seguintes.
Quanto é que isso dá?
Bom ah, 5500 coras mais 1600 do pneu!
Mas isso dá-me para ir a Portugal, colocar 2 pneus e voltar! Digo indignado.
Eu acho que deves aceitar esta proposta, metes este pneu de estrada e segues viagem.
Concordei. Era a opção mais racional e mais económica. Aliás, se não olhasse para o pneu nem daria mais por ele. Que se lixe, também vou fazer 99% de alcatrão…
Enquanto mudavam o pneu na jante, fomos levantar coroas. 1€ = 7,05 coroas dinamarquesas. Levantei 2000, arrependido por não ter experimentado primeiro o kit da touratech, já que, este pneu ía lá ficar! Que burro, se calhar ainda o levava esquecido até Portugal como me costuma acontecer nas minhas reparações de improviso!
Um dia parte-se-me o terminal que faz de batente de um cabo de embraiagem. Afinfei-lhe na ponta com um alicate de pressão, veio para Portugal e andei com ele não sei quanto tempo mais, esquecido de tal artimanha.

Bem, vamos embora. Não serve de nada chorar no molhado… Lá estou eu com a chuva, isto é já traumatizante!
O viking insiste em pegar no pneu, replica mais uma vez que a responsabilidade é dele!
Chegamos e diz-me descaradamente, olha agora montas tu o pneu, eu tenho de me ir embora senão pagas mais…
Puxei-lhe o bigode – quase, mas não o fiz, e despedi-me.

Pelo menos já podia rolar! Caramba este pneu fica mesmo mal nesta moto!
Arrumo tudo e faço os 17Kms que deveria ter feito na véspera até Billund. Entro no parque de campismo, hesito entre 1 a 2 dias. 165 coroas por dia! Arre! está decido – 1 dia! Têm Internet? Sim e é gratuita! Fixe, ao menos isso.

Monto a tenda, arrumo tudo, mudo de roupa e ponho-me a caminho da Legoland.

Parque de campismo de Billund
Legoland

Entrada 285 coroas, 40€. Vá, é uma vez na vida.

Entrada da Legolandia
O sonho torna-se realidade, renasço, volto a ter os meus 6 ou 7 anos, delicio-me quero tocar, mexer, brincar… Ei! saia daí, não pode andar aí a brincar com as peças! Não era para mim, mas para uma criança que estava ao meu lado e fez o que eu tanto queria fazer – boa puto!

A Legolandia é, à semelhança de Madurodam na Holanda – agora percebem por que é que tanto gosto de miniaturas… uma parque temático, neste caso feito todo em Lego, dos países mais próximos e dos temas que o Marketing da Lego pretendem vender mais. À parte do interesse comercial, é lindo! Lindo, lindo, lindo!

A zona de construção Lego é muito mais pequena que Madurodam. No entanto não deixa de ser impressionante. Por vezes cada tema tem mais de 2 milhões de peças!
Notam-se semelhanças na engenharia da construção e movimento das cenas – não sei quem terá sido o primeiro…
Em destaque estava a área da guerra das estrelas, muito bem caracterizada.

Caracterização da Guerra das Estrelas
O resto do parque era sobre tudo recreativo.

Zona de restaurantes

Os miúdos podiam tirar bilhetes para “andar em tudo” e vale bem a pena.
Água não faltava. Praticamente todas as diversões aqui andam à volta da água. Os barcos de Lego e o tema dos Piratas eram os mais comuns.
Era divertido por si só ver a alegria das crianças! Quem me dera ter esta idade ou ter trazido aqui os meus filhos…

Lago dos tubarões
Lago dos piratas
Montanha russa
Montanhas russas, com água e sem água, lagos com barcos de piratas e tesouros, minas e comboios fantasmas, mais barcos e mais água, castelos e princesas, túneis e um zoo com grandes animais na selva, tudo em Lego. Fantástico!

Tiro fotos até, mais uma vez, ficar sem bateria na máquina – paciência, creio que tirei a tudo, depois escolho as melhores.
Foram 3 horas e meia de puro divertimento – parecia um puto a sorrir para toda a gente. Sorrisos cativam sorrisos e por vezes tinha a recompensa de ver os meus retribuídos por crianças e adultos.

18 horas, fechou. Lojas de suvenirs, mas não comprei nada. Trago a recordação deste dia e muitas fotos para partilhar convosco.

Chego ao parque, ligo-me por wireless e pede-me a password. Vou à recepção – não, estamos com um problema… volte mais tarde. Voltei mais tarde, a mesma história. E outra vez… Paciência. Amanhã descubro uma rede onde me pendurar…

Ocupo o meu tempo a carregar equipamento, máquina fotográfica, computador, está tudo pronto para amanhã.
São 21 horas e o sol está alto, alto demasiado para os nossos padrões. Imaginem, estiquem o braço, abram um palmo onde um dedo toca o horizonte e o outro toca o sol. Já viram a altura?
Tirito de frio, 13 graus lá fora e os dinamarqueses andam em manga curta.

São agora 20 para as 11 e ainda há luz. Vou-me deitar!

Album de fotos: Dinamarca.

Alguém me faz alguma coisa ao anticiclone dos açores?

Saio da Holanda, chove. Sigo para norte. A ideia é passar pelo grande dique de Afsluitdijk com quase 30 Kms. Este dique é responsável pela segurança das terras baixas da Holanda, sem ele uma boa parte desta desaparecia do mapa, já que se encontram abaixo do nível médio da água do mar.

Dique de Afsluitdijk
Passado o dique, digo à Madalena que quero ir direito a Billund, na Dinamarca, objectivo a não perder – a Legolandia!
O Lego para mim foi um brinquedo fantástico… Ainda hoje, quando tenho tempo brinco!

A Madalena manda-me para trás, atravessar o Canal da Mancha, entrar na Grã-Bretanha e apanhar o barco para o meio do Atlântico… diz-me – falta 1035Kms, chegas às 6h AM!
Pois, deve ter havido farra ontem à noite e ela meteu-se nos copos…

Lembrava-me do nome da cidade e corrigi este erro. Ah! 650Km, assim está bem, dá para fazer tudo num dia!

Mas por favor, estamos em Junho? Alguém me faz alguma coisa ao anticiclone dos açores?
Chove, chove, chove… foram mais de 5 horas sempre a chover! Juntemos as nossas vozes e brademos ao S. Pedro para um intervalo!

Passei a Alemanha debaixo de chuva, sempre pela auto-estrada, sem vontade de parar para fotos! Também, entre apanhar chuva na estrada ou a passear por aí…
Abasteço ainda na Alemanha, a pensar que a gasolina aqui seria mais barata! Não, custa menos na Dinamarca.

Diria quase que tenho entrado todas as fronteiras a mais de 100Km/h e a chover, já não posso com tanta humidade!
Mesmo as luvas de inverno ficam frias. Bem abençoados os punhos aquecidos da BMW.

Sorriu. Outro país! Não é que passar por países, ou melhor, que fazer países seja interessante. Mas porque me aproximo dos objectivos que tinha. Conhecer os países a norte da Holanda. A Alemanha ficará para um voo low cost para o ano…

Se há coisa que aprecio, para além das pessoas, são os fenómenos físicos. E tenho observado que cada vez que vou mais para norte o dia é maior. Aqui na Dinamarca, às 23 horas ainda havia luz lá fora e, acordei às 4 e pouco também já com luz. Claro, quando passar o circulo polar árctico terei sol 24 horas e, isto é apenas o resultado de me estar a aproximar dessa latitude.

A 17Km do meu destino, surge um alerta vermelho no painel de instrumentos, mas como já lá estava um amarelo, pois parece-me que a comunicação com o sensor da roda traseira por vezes dá erro não liguei muito. Percorro as opções do painel e nada surge de especial, deve ter mesmo haver com a pressão dos pneus! Começo a sentir a moto instável… Paro. É o pneu de trás!
E agora? Às 9 da noite é que me acontece isto!

Uma pedrinha!
Chovia bem. Olho ao redor. Vejo um letreiro Bed and Breakfast – estou safo!
Dou a volta, 20 metros, já com o pneu quase sem pressão e aparece-me o dono – Do you have rooms? No, I’am sorry we are full!
Estou feito! Tentei outra – can I mount my tent in your jardin?
Diz-me que sim, mas tem uma ideia melhor. Leva-me para uma daquelas tendas de casamentos montadas em cima da relva seca, nas traseiras da casa. Óptimo! E começo a montar a tenda. Aparece 5 minutos depois, falou com a sua mulher e arranjaram-me um quarto lá em casa! Apresentam-me a casa, este é o teu quarto, serve? Claro! Quanto custa? 100 coroas. Ops! Não tenho coroas, acabei de chegar! Ok, então não pagas nada! Nem queria acreditar! Claro que pago, amanhã, depois de resolvido o problema do furo, vou à cidade mais próxima e venho cá pagar-vos. Como queiras, disseram-me.
Ah! E tens Internet 🙂

Já de manhã, tentei diversas soluções, desmontei o pneu, ligou-se para 2 oficinas próximas, mas não reparam pneus de motos… enfim, acho que até se dava um jeitinho mas… Acabei por ligar para a assistência em viagem.

Desmonto a roda para mais fácil a levar para reparar...
Estou à espera!

Album de fotos: Dinamarca

Em casa de novo

Amsterdão

Não porque aqui venha muitas vezes, mas porque tenho tios e primos a viver por toda a Holanda! A escolha é tanta que é difícil agradar a todos e, quanto mais tempo aqui estivesse mais teria de me repartir.

A percepção da Holanda deu-se imediatamente após ter saído da fabulosa auto-estrada de 5 faixas em cada sentido – uma visão pombalina deste país. Todas as faixas compactas a rolar no limite de velocidade!
Saio da via rápida, entro em Amstelveen, semáforo vermelho, eu à frente da fila, e imediatamente cruzam dezenas de bicicletas em ambos os sentidos – ei! cheguei à Holanda, pensei!

Rua de Amsterdão com as suas famosas bicicletas
À espera do metro com a sua bicicleta

Ainda sobre o trânsito… nos dias seguintes dei passeios a pé e de bicicleta, como não poderia deixar de ser. Existem as estradas, que conhecemos, os caminhos para as bicicletas, paralelos às estradas, e os passeios para as pessoas. Cruzar uma estrada é complicado nos primeiros dias, pois identificar cada um destes corredores, atender ao sentido de circulação e não ser atropelado por estes objectos de 2 rodas dos mais diversos modelos, é obra!

Cruzamentos - vias para carros, bicicletas e pessoas!
Se não foram os Holandeses a inventar a bicicleta, inventaram todos os modelos possíveis e imaginários, cada bicicleta tem a sua prestação. Bicicletas, triciclos, com caixa à frente, para levar os filhos e transportar as compras, atrás, com e sem reboque, para 2, 3 e 4 pessoas – modelo limosine… é um deleite!

Tanta bicicleta implica grandes espaços para estacionamento. E encontrar a sua bicicleta, para estes holandeses parece tarefa fácil…

Estacionamento para bicicletas em Amsterdão
Não disse, mas a razão de tantas bicicletas é que a Holanda é plana. Os obstáculos mais difíceis de vencer são as subidas das pontes. Dão-se ao luxo de muitas das bicicletas não terem mudanças.

As bicicletas são justificadas também pelo facto do estacionamento automóvel nas grandes cidades ser muito caro. Em Amsterdão, por cada hora paga-se 3€.

Assim como acontece nas horas de ponta, cuidado, quando vemos uma bicicleta o condutor tem um objectivo, que é chegar ao destino, cumprir o seu compromisso. Os holandeses não andam em passeio aos dias de semana!
Como respondia ao meu filho, quando pequeno e me perguntava – pai, quanto é que aquele carro dá? – a resposta aqui é – depende das pernas. E não queiram estar à frente de uma, pois é garantida uma ida ao hospital…

Claro, tive de aprender regras novas. Há sinais no chão, em cada cruzamento que indicam quando as bicicletas têm prioridade, creio que lhes chamam dentes de crocodilo. Geralmente encontram-se à saída das rotundas e há que dar passagem a estes veículos.
As motos grandes não se vêem muito por estes lados e cada vez que saio sou mirado por alguns locais mais curiosos.

Outra coisa, o trânsito aqui flui! Sério, é fantástico – muitos dos sinais luminosos são inteligentes, digo, têm sensores e assim que o tráfego de uma das faixas passa imediatamente o sinal muda. Nos cruzamentos não se espera e os engarrafamentos são mínimos, a não ser nas entradas das grandes cidades…

As casas

Estou maravilhado! Era assim que gostava de ter uma casa – janelas grandes de parede a parede, vidros duplos para insonorizar e isolar nos dias frios, muita luz por toda a casa…
Passear na rua observar estas casas é delicioso. Não como voyer mas com a simples curiosidade de conhecer o seu estilo de vida.
A maioria não tem cortinas, cortinas de renda como nós. Têm cortinados que se fecham apenas quando vão dormir. O Sol nestes dias de Junho clareia às 4h30 assim, as cortinas permitem mais 1 a 2 horas de descanso.
Como dizia, o olhar através da janela revela a sala, mais simples, como eu gosto, confortável e o pátio de trás também iluminado pela janela do fundo. Perscruta-se um pequeno jardim com relva, brinquedos de criança e um barbeque… sim, eles também gostam de churrasco!

Casa em Amstelveen
Da rua, ao jardim das traseiras
Casa/barco num canal
As casas são caras, muito caras. O seu preço depende muito da idade do imóvel. Não se vêem casas novas, vêem-se casas remodeladas, arranjadas e cuidadas.
Na verdade não se compreende, face ao preço do metro quadrado do vidro que sejam tão caras. A pedra, o cimento e o tijolo apenas dão a estrutura ao edifício, o resto é vidro. Muitas já vêem pré-fabricadas… porque são tão caras? O preço do terreno? O preço da mão-de-obra? É certo que a Holanda conquistou as suas terras ao mar, mas mesmo assim…
Uma pequena vivenda, com 2 pisos, tal como descrevo, numa cidade periférica a Amsterdão custa entre 250 a 300 mil euros…

Os espaços circundantes são muito agradáveis. Verdes, com pontes sobre os canais, a relva que cobre quase tudo, sempre aparada. Muitas árvores e pássaros. Aqui dominam os corvos em duas espécies que identifiquei, ao invés das pombas em Lisboa.
Cada canal ou lago é populado por uma família de patos e, cheguei a ver uma destas famílias, a pata com os seus patinhos, a atravessar uma estrada na cidade para ir de um canal a outro.
Não vi cães à solta, gatos sim.

Os animais aqui são muito estimados e respeitados. É comum ver os filhos a pé e os cães, os pequenos cães, ao colo! Disseram-me que há quem adapte carrinhos de bebés para os seus cães.
A razão de tamanha devoção deve-se a que na segunda grande guerra a holanda sobreviveu à fome graças aos seus animais domésticos – não sabia, e apesar do exagero, compreendo!

As pessoas

Adoro observar as pessoas. São elas a razão das cidades, são elas o melhor ou o pior destas metrópoles e transmitem todos os sentimentos e sensações cosmopolitas das grandes capitais.
Na primeira impressão os holandeses são frios. Um olhar insistente para um holandês ou holandesa bonita revela, para um latino, distanciamento. São olhares fugazes, tipo toca e foge, quem sabe reflexo de preocupações do trabalho e da azáfama do dia a dia.

Num bar à noite
À noite é diferente. Muito diferente! As pessoas estão mais disponíveis, tocam-se com os olhos, observam-nos, reparam, sorriem e, num bar trocam-se pequenas conversas… Os empregados destes bares estão sempre prontos a entabular qualquer conversa e sorriem, sorriem com a boca aberta de orelha a orelha! 😀

Vista de um canal
Casa nos subúrbios
Sim, via-me a viver em Amsterdão!

Album de fotos: Holanda.

Adiós Espanha, Vive la France

Levantei campo em Espanha, pus-me à estrada e começa da chover. Sinto saudades… A madalena faz-me companhia – sugere-me que vá pelos baixos pirinéus e acedo. Estou farto de vias rápidas e adoro montanha.

Um momento de pausa nos baixos Pirinéus
A chuva fica mais forte à medida que subo. Abasteço num posto que julgo ser o último antes de entrar em França.
Chove tanto, tanto que nem dou porque entrei em França. Foi a mudança do lettering da sinalização e a seguir as matrículas dos carros que percebi que passei a fronteira.

Foi um dia de chuva, sempre chuva e por isso poucas ou nenhumas fotos.
Chega a noite vem o stress de procurar um local para pernoitar: um bosque, um caminho em terra batida que se afaste da estrada principal são os meus preferidos…
Hoje fico ao lado da estrada. Já estava escuro e não encontrava muitas opções…
Choveu toda a noite. No dia seguinte arrumo a tenda à chuva, toda molhada. Arrumo tudo no saco e, reparo que deixei as fitas de prender o saco dentro da tenda! Toca a desmontar tudo, abrir a tenda, recuperar as fitas e arrumar tudo outra vez. Enfim, pode acontecer a qualquer um…
Ouço um barulho estranho… passa uma ambulância, passa outra e eu faço-me à estrada. Uns metros à frente um carro saiu dos limites do pavimento e tinha capotado… não me pareceu haver feridos graves e o carro talvez até pudesse sair dali a andar!

Depois de extensas florestas e campos cultivados de cereais eis que chego ao meu destino.

Lézinnes – uma pequena vila no interior de França.

Esta região é conhecida pelos seus vinhos – o vinho de Chablis. São hectares e hectares de vinhas e cereais. É bonito.

De Inverno, para não perderem a colheita acendem pequenas lanternas a gasóleo e distribuem-nas ao longo das vinhas para aquecer o ambiente e evitar a geada.
Os campos de vinhas, pela noite ficam iluminados como se fossem presépios, deve ser surreal!

O canal de Bourgogne que atravessa Lézinnes tem 242 Km, foi feito, à semelhança do canal do Midi, pela mão do homem e permite distribuir matérias primas e alimentos entre as povoações. Tem árvores ao longo do percurso para fazer sombra aos animais que puxam os barcos.
Ao longo do percurso tem diversas eclusas para que os barcos possam subir ou descer o rio.

Canal de Lézinnes
No espaço onde fiquei, e onde os meus tios são caseiros, existe uma casa burguesa que foi ocupada pelas nazis durante a guerra.
Visitei-a, é imponente!

Casa burguesa em Lézinnes
Contam que, aquando da ocupação destas terras, obrigaram o dono a sair de casa para fazerem ali quartel general da região. Como o dono não cedeu foi encostado a uma árvore e fuzilado ali mesmo!
Diz o meu primo que um seu amigo electricista há uns anos atrás aproximou um detector de metais da árvore e que este apitou um diversos locais à altura do peito e assim foi corroborada a história.

Nesta região foi batido o recorde do TGV, se não estou em erro, em 1981. O azul é da linha do Atlântico e o laranja, o primeiro, serve o interior.

Troyes é a capital das fábricas das principais marcas de roupa francesa.

Casas de Troyes
Em 1524 metade da cidade ardeu porque as casas eram feitas em madeira e adobe.

Vista da praça central
Aqui começa também a grande região de champanhe. Há champanhes que ficam em caves por mais de 20 anos e cada garrafa custa mais de 500€!

Fiquei aqui a tarde do dia que cheguei e o dia seguinte, mimado pela família e pela curiosidade da descoberta de uma aldeia tão pequena com tanto tema de interesse.

Saio no dia seguinte com a ideia de ficar na Bélgica. Entro no Luxemburgo pela auto-estrada direito à capital onde dou umas voltas para conhecer.

Aldeia no interior do Luxemburgo
Meto por estradas interiores, atravesso o Luxemburgo num ápice, com paisagens verdes que alteram entre campos agrícolas e florestas e rumo à Bélgica.
Cansado, pergunto à madalena quanto tempo até Bruxelas e quanto tempo até Amsterdão – 1 hora de diferença! Vou para Amsterdão, paciência… não é a primeira vez que venho a Bruxelas, fica para a próxima!

Album de fotos: Espanha, França, Luxemburgo.

Afinal o dia sempre chegou…

Fantástica a recepção de hoje à partida no Cabo da Roca!

Uns dias antes encontrei por acaso o Ricardo Pereira na Motomil, já o conhecia, não me recordo de onde! Disse-me que esteve no Cabo Norte no ano passado e que compilou algumas notas giras sobre a viagem num bloco. Combinámos e encontrei-me com ele e com o Rui Ribeiro no Arco do Ramalhão nesse dia à noite e, devorei os seus apontamentos durante o fim-de-semana. Por falta de tempo, apenas dois dias antes coloquei no facebook a data da partida e divulguei ao mundo as minha intenções…
Vejo uma mensagem tímida “pessoal vamos lá estar”, nunca esperei tamanha mobilização! Obrigado a todos.
Quem sabe, se os conhecesse, a viagem não teria sido a solo…

Partida do Cabo da Roca
Mais difícil foi a partida, entre a emoção e a razão, do porquê desta aventura quando deixamos tudo e todos para trás, abdicamos do conforto, do carinho da família e dos amigos e saímos sozinhos para fazer 15 mil kilómetros pela Europa fora! Não há razão!…

Foto de grupo
Objectivo nestes primeiros dias: atravessar Espanha e França, visitar a família, conhecer o Luxemburgo, rever a Bélgica e amarar entre os canais em Amesterdão na Holanda para estar ali com todos os primos e tios – credo, uma semana não vai chegar!

Saímos do Cabo da Roca. Tive direito a honras e encabecei a longa fila de motards até à auto-estrada.
O Rui Baltazar ainda me acompanhou. Despedi-me dele mais tarde em Sintra. Obrigado Rui e a todos!

São momentos difíceis estes da partida. As emoções vão à flor da pele e só muitas horas depois me recompus desta reunião de amigos, e a gerir o melhor possível as saudades da família…

O céu ameaçava borrasca. Entre grandes nuvens de desenvolvimento vertical e valentes colunas de água lá me ía safando. Ora à esquerda, ora à direita ela caía, com raios e trovoada ao longe.
Mas em Espanha lá fui abençoado e não foram poucas as vezes! Tudo curtas metragens e deu para ir secando…

Terminei o primeiro dia a 25 Kms de Burgos, como prometi num hotel, como eu gosto, com mais de 5 estrelas, aliás com todas aquelas que entre nuvens lá ía contando na abóbada celeste, ou, na pensão estrela, como outros lhe chamam e onde tenho o conforto e higiene na medida certa.

Abandonei a autovia, e dei com umas árvores perto de um rio. Lindo pensei, acabou-se-me o stress, pois via o sol a descer e eu sem saber onde iria ainda ficar.
Saio da moto, avalio a envolvente – era bonito sem dúvida – fico aqui. Dito e feito tiro o capacete…
Bem, devo ter sido a sobremesa para muitos mosquitos e melgas! Credo, pensei – se tivesse aqui um bife num prato era devorado que nem piranhas num rio o fariam em tão pouco tempo!

Primeira noite
Monto a tenda, enfio tudo lá para dentro, enfio-me também lá dentro e depois logo se vê…
Petisco uma bolachas – começa a dieta!
Recordo o dia, recebo uma avalanche de SMS e vou-me deitar.

Por não poder responder a todos, fica o meu obrigado por tantas mensagens de amizade que me deixaram!

– Um grande, grande abraço!

Album de fotos: Portugal, Espanha.