À espera de embarque

Ah! Que preguiça! Acho que este foi o único dia que me dei ao luxo de me deixar ficar na cama até me apetecer…
Na cama, entenda-se, com o prefixo de “saco”.

Espreguicei-me, vesti o fato de banho e fui à piscina pela última vez.
A água, assim como a da praia está uma sopita, aliás como em todo o norte do mediterrâneo, pelo que conheço.
Gosto mais do mar, mas a proximidade desta praia ao porto onde embarco logo mais dá-me algumas náuseas. Por vezes cheira a gasóleo ou qualquer outro combustível náutico.

Praia
Não me apeteceu fazer nada durante o dia.

Percorri a marginal à procura de uma rede aberta. Parei mesmo em frente aos Carabinieri, mas percebi que já estava a dar muito nas vistas, pois com frequência vinham à varanda (era uma pequena vivenda) e olhavam insistentemente para mim. Para não levantar mais suspeitas, fiz umas centenas de metros mais e apanhei outra ainda com melhor sinal!
Transferi mais algumas fotos, dei respostas a mails, consultei uns extractos e, acabei por sair dali pois o “sol rodava” e a sombra desaparecia.

Volto ao parque, arrumo todo o material, pensando que tenho de levar comigo documentos, alguma comida, computador para ir escrevendo as crónicas em atraso… porque o acesso à moto é vedado assim que o barco sai o porto.

Despeço-me da malta da recepção. Dirijo-me ao porto. Eles têm uma espécie de fronteira ali e fazem questão de que assim pareça.
Entro com a moto, estaciono e ouço logo uns assobios, como quem lida com camionistas… Ei, não pode deixar a moto aí, já lá para fora!
No dia anterior, quando cheguei foi a mesma cena! Eu sei, manter low profile, mas às vezes não resisto!

Afinal não é às 5, é quando lhes apetece que abrem a bilheteira. Fiz-me de inês (desculpem as inêzes) – claro, eu espero!
Meto conversa com uns americanos, 2 jovens noruegueses que mais tarde partilharam a cabine comigo e uma espanhola desesperada. Coitada, queria à última da hora levar o tractor de um TIR no barco para Espanha pois, por causa de um feriado em França cortam a passagem aos camiões – não percebi!

Lá abriram. Compro a passagem. Para estar ali pelas 21h30 mais tardar 22 horas.

À espera de embarque ao pôr do Sol e a recordar a viagem
Queimei as últimas horas à beira mar. Vi o pôr do Sol. Despedi-me do mundo terreno, com umas chamadas e sms e regressei ao porto.

Ei! Agora sim. Mais motards!
Trocámos histórias e galhardetes. Instalamos-nos e partimos.

Do Adriático ao Mediterrâneo

Saio de Veneza. Entenda-se, Veneza costa.
Fiquei num parque de campismo (Fusina) que organiza também as travessias para Veneza, e assim acaba por ser melhor pois deixam-se ali os carros, as auto-caravanas e as motos em segurança. Tem também um parque de estacionamento para quem não acampa.

Levanta-se um ventinho fresco de manhã e penso que hoje não vou ter tanto calor!
Enganas-te Ricardo. Nunca passaste foi tanto calor!

Faço-me à estrada. Desta, na auto-estrada. Com este calor não posso andar a 50 à hora pelas localidades. Aqui, estas, são quase todas pagas e algumas bem más. Estreitas, com curvas perigosas, descidas e subidas acentuadas, muito trânsito, sobretudo de pesados…

O calor aperta. Hoje não vesti as calças do fato, nem as botas.
Pensava parar em Florência, já cá estive e gostava de deixar aqui umas fotos desta belíssima cidade.
Desisto. Quando vejo o desvio o termómetro marca 39,5º! Lamento!

O painel de instrumentos assinala uma anomalia. Pouco óleo no motor!
Bolas! Esqueci-me de ir vendo o nível durante a viagem…
Menos mal que não acendeu a luz amarela!
Na realidade sentia que as mudanças, principalmente as baixas, já entravam com um som demasiado metálico, como uma pequena martelada. Mas, penso que é uma característica da BMW, por isso nunca liguei muito…

Paro numa estação de serviço, têm o óleo recomendado pela BMW. Corrijo o nível e, ah! parece outra coisa!
A indicação de erro desaparece, sorriu e acelero auto-estrada fora. Direcção Livorno. Pago 22€.

Não foi difícil dar com o porto utilizado por esta companhia. À terceira tentativa, sem enganos, já estava no porto.
Pergunto a que horas abre a bilheteira – às 17 horas de amanhã.

Procuro um parque de campismo. Há um logo a 1 km dali.
Chego à recepção, perguntam de onde venho, para onde vou, fazem-me uma festa. Não pago piscina, posso sair no dia seguinte à hora que quiser – fantástico!

Já instalado no parque de campismo
O rapaz da recepção era motard, aponta-me com orgulho a sua BMW 1200 de estrada ali em frente!